Lentilha para dar sorte

O costume de comer lentilhas na noite da passagem de ano é comum não só no Brasil, mas também em outros países da América do Sul. O alimento está associado à sorte financeira, já que as sementes são semelhantes a moedas.

Uma das leguminosas mais digestíveis do mundo, a lentilha faz parte da alimentação humana desde a pré-história. Seu nome vem do latim “lenticula”, sendo essa palavra um diminutivo de lente. Por analogia de forma, o alimento deu nome aos objetos de vidro que entravam na fabricação de instrumentos ópticos, como as lentes dos óculos e a lente de contato.

Provavelmente cultivada há cerca de 10.000 anos, as lentilhas são originárias da Ásia, havendo registro de sua existência, já nessa época, no norte da Síria. No desenvolvimento da agricultura do neolítico, elas eram consumidas na Grécia e sul da Bulgária, chegando à Creta cerca de 6.000 anos a.C. Na era do bronze, tornaram-se conhecidas na Hungria, Checoslováquia, Suiça, Alemanha e França.

Essa maravilha era também apreciada no Egito dos faraós, onde era aproveitada nas sopas. E os assírios também a conheciam: documentos indicam que elas eram cultivadas nos famosos jardins suspensos da Babilônia, no século VIII a.C.

Na Grécia antiga, as lentilhas eram conhecidas como alimento dos pobres. Nessa época, um novo rico dizia que não gostava mais de lentilha.

E a leguminosa logo se espalhou pelo Leste. Povos da Índia, Oriente Médio e África do Norte foram alguns dos que a utilizavam como base na alimentação. Já no século XVI, a lentilha é introduzida na América, mas apenas com o fim da Primeira Guerra Mundial passa a ser cultivada nos Estados Unidos e Canadá. Aliás, o Canadá é um dos maiores produtores e exportadores mundiais de lentilha.

Hoje, a Turquia e a Índia são os grandes produtores mundiais da leguminosa. No país de Gandhi, onde praticamente não se come carne, a lentilha assumiu tal importância, que é o segundo vegetal mais consumido, logo depois do arroz. No Brasil, o cultivo ocorre nos Estados do Sul, porque a plantinha arbustiva de plantio anual, batizada cientificamente de Lens esculenta ou culinaris, se dá bem em solos férteis de regiões frias, ainda que suporte períodos de estiagem.

Prato nacional do Marrocos, a sopa de lentilhas ou harira, é apreciada durante os trinta dias do Ramadã, acompanhada de bolos de mel.

Em outros países árabes do norte da África e do Oriente Médio, protagoniza uma espécie de baião-de-dois local, ao ser cozida com arroz e coberta com cebolas douradas.

Na Espanha, é ingrediente fundamental do cozido aragonês, valorizado por nacos de presunto serrano.

Essencial para comemorar o Réveillon na Itália, a lentilha não tem como parceiro apenas o cotechino. Dá alma a massas, antepastos e até a molhos consumidos no dia-a-dia ou nas festas.

Mesmo para os indiferentes à superstição, o final do ano é boa ocasião para comer um alimento precioso. Planta anual, da família das leguminosas, da qual consumimos apenas as sementes, que apresentam cor marrom, verde ou vermelha, a lentilha se presta a inúmeras receitas.

Seu sabor talvez evoque o do feijão. Harmoniza-se com ingredientes como a carne de porco, o toucinho, a lingüiça e o “cotechino”, embutido de origem emiliana. Vai bem em sopas e cremes, purês e saladas, antepastos e molhos de massas. Misturada com arroz e cebola frita, transforma-se em clássico da cozinha árabe.

É RICA EM - Vitamina A, B, B2, B5, C, cobre, enxofre, iodo, magnésio, zinco, potássio, sódio. Do ponto de vista nutricional, a lentilha tem sido utilizada nas dietas para baixar os níveis de glucose no sangue (após as refeições) tanto em pessoas com e sem diabete.

Ainda que você não acredite em superstições, vale fazer uma fezinha.